quinta-feira, 18 de abril de 2013

Várias em Uma




Primeiro algumas fotos da navegada do Gilberto subindo o Canal São Gonçalo e também do amigo Jorge. Ontem eu e a Janice passando pela muvuca de um engarrafamento na Ferreira Viana, e na frente finalmente, o Cota tomando o rumo das águas do Iate Clube de Pelotas, Parabéns...


























Abaixo, Relato do César do Summertime.


Nove dias no paraíso






Já estava na hora de voltar a navegar, considerando que havia comprado o barco já há alguns meses e minha última e única velejada com ele fora a travessia da Lagoa dos Patos, para trazê-lo ao seu novo lar em Pelotas. O mais difícil foi escolher a data em função dos compromissos profissionais que acabam nos escravizando. Ficou acertado que seria no feriado de Páscoa emendando na semana seguinte, aproveitando para levar o Minuano, barco do amigo Luiz, de volta para casa, em Porto Alegre. E assim foi que partimos na Sexta-feira Santa, 29 de Março,do Veleiros Saldanha da Gama tendo por tripulação, no Summertime Tiago e eu, no Minuano Luiz e Robinson, amigos de outras velejadas e muitas histórias acumuladas ao longo de muitos anos de amizade e parceria.
                Nosso primeiro rumo foi São José do Norte, partilhando da realização de um sonho do Luiz de chegar à cidade navegando em seu próprio barco, pois sua família tem tradição marinheira e laços fortes com a cidade, ele próprio já tendo trabalhado embarcado na adolescência. Almoçamos no simples, porém famoso restaurante Brisamar, onde desfrutamos de excelente culinária à base de frutos do mar por preços incrivelmente baixos para, a seguir, receber a visita do tio do Luiz a bordo do Minuano, coroando seu sonho de chegar como comandante em seu próprio veleiro.  Depois atravessamos o canal até atracarmos no Rio Grande Yacht Club, onde fomos recebidos de forma a nos sentirmos em nossa própria casa, e pudemos nos juntar a outros amigos que prestigiavam a Festa do Mar e se preparavam para participar da regata do dia seguinte organizada pelo RGYC, Ari Vilas Boas e Joaquim Fonseca no veleiro Rigel. Mesmo com poucos barcos a brisa moderada que soprou acrescentou certa emoção à regatae o Minuano fez boa figura na raia. À noite, coquetel e premiação, bom papo na varanda do clube e uma noite de sono para seguir viagem no dia seguinte, agora com proa para Porto Alegre, sem pressa, curtindo a velejada e a paisagem.
                A ausência de vento na manhã seguinte e a forte correnteza contra nos fez motorar o dia todo para tentar chegar antes do anoitecer à Barra Falsa, o que infelizmente não foi possível, embora tenhamos chegado com segurança, apesar da escuridão e dificuldade de encontrar as estacas que marcam o caminho. A noite foi muito agradável, principalmente por termos a possibilidade de comprovar a extraordinária habilidade do Tiago na cozinha do Summertime. Enquanto a galera saboreava um bom vinho, discutíamos o destino para o dia seguinte, tendo chegado à conclusão de que o Porto do Barquinho seria a melhor opção. O vento leste, que soprou desde as primeiras horas do dia, nos proporcionou uma bela velejada até o farol Cristóvão Pereira, no entanto ao colocarmos a proa no rumo do Porto do Barquinho as coisas se complicaram, pois as ondas cresceram com o vento que apertou nos obrigando a baixar os panos e motorar até nosso destino, que só conseguimos alcançar após o crepúsculo e com alguns encalhes aqui e ali.
                O Porto do Barquinho nos serviu de abrigo por quatro dias, pois os ventos fortes que começaram a soprar de nordeste nos impediram de deixar o porto no dia seguinte à nossa chegada. O que não foi exatamente um castigo, pois como a intenção era curtir uns dias mais próximos à natureza, longe das coisas a que estamos habituados na velha rotina que nos devora, na verdade foi um presente. Eu permaneci na volta do barco durante os quatro dias, lendo e curtindo a vida a bordo, mas o pessoal resolveu empreender expedições pelo lugar e acabou fazendo amizade com o Hamilton, ou Amilton, ou Amarilton (acho que esse é o nome verdadeiro, embora tenhamos adotado o primeiro), que para nossa gratidão e deleite, nos presenteou com ovos, galinha caipira e um pedaço de tatu que preparávamos à noite, degustando um vinho e procurando saber as previsões para o dia seguinte com o Numair em Porto Alegre e o André em São Lourenço do Sul.
                Na manhã do quinto dia após nossa chegada ao Porto do Barquinho, confirmando a previsão da noite anterior, o vento começou a soprar de noroeste com menor intensidade, então resolvemos zarpar o mais cedo possível, também com a mesma dificuldade que tivemos ao entrar, encalhando em alguns pontos.  Com a vela grande no segundo rizo e agenoa um pouco maior que um tormentin, velejamos numa orça folgada durante o dia todo aguardando que a previsão de vento sudoeste se confirmasse, o que não aconteceu, nos obrigando àquele contravento agradável o dia todo. O sol nos acompanhou desde as primeiras horas da manhã e assim atravessamos o dia, debaixo de um céuabsolutamente azul, sem nuvens. Após cruzarmos o Farol de Itapuã e entrarmos oficialmenteno rio Guaíba o vento se despediu tornando o rio espelhado. Chegamos em Porto Alegre à noite, sem ondas ou vento, apreciando uma paisagem que só quem navega pode desfrutar, com as luzes da cidade ao fundo e uma agradável sensação de paz.
                Vale lembrar a famosa frase, atribuída a Fernando Pessoa,“Navegar é preciso, viver não é preciso”. As novas tecnologias incorporadas à navegação, com gps e cartas digitais, tornaram ainda mais precisa a arte de navegar, nos facilitando a vida e trazendo conforto a bordo. No entanto a vida continua sendo imprecisa, imprevisível, incerta, nos dando a dimensão da nossa pequenez e finitude. Resta-nos aproveitá-la da melhor maneira possível, curtindo a família, os amigos e os pequenos prazeres, como passar noites em lugares ermos, distantes da confusão das cidades e da rotina que nos aprisiona sempre. Quero agradecer aos companheiros de mais essa aventura. Ao novo amigo, Tiago, que já completa comigo duas travessias da Lagoa dos Patos a bordo do Summertime, velejador competente, cozinheiro de mão cheia e que tem a calma e a serenidade como marcas registradas. Ao Luiz, comandante do veleiro Minuano, pela velha parceria firmada ao longo de mais de 20 anos, dos quais não tenho lembrança de vê-lo triste ou desanimado e cujo repertório de piadas e frases de efeito jamais se esgota. Ao Robinson,com quem tive o prazer de aprender as primeiras lições de vela e dividir várias aventuras pela Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, sem deixar de mencionar a viagem inaugural dos nossos barcos Diogocão e Crusoé, há 20 anos.               
                Que bons ventos nos acompanhem sempre, nos levando a portos seguros, vislumbrando as mais belas e singelas paisagens. Saúde, e que nunca nos falte...

                César Augusto Graff de Oliveira
                Veleiro Summertime























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